Flipoços retira escritora da programação e recolhe livros após fala supostamente racista

Camila Panizzi Luz disse que queria fazer parte do 'Coletivo Neomarginais', mas não havia sido presa. Organização disse que ela assumiu uma postura inaceitá...

Flipoços retira escritora da programação e recolhe livros após fala supostamente racista
Flipoços retira escritora da programação e recolhe livros após fala supostamente racista (Foto: Reprodução)

Camila Panizzi Luz disse que queria fazer parte do 'Coletivo Neomarginais', mas não havia sido presa. Organização disse que ela assumiu uma postura inaceitável, com declarações ofensivas. Flipoços rompe com escritora que relacionou literatura marginal à criminalidade A organização do Festival Literário Internacional de Poços de Caldas - Flipoços retirou a escritora Camila Panizzi Luz das atividades do evento e recolheu o seu livro. Durante sua apresentação, na quarta-feira (29), ela associou literatura marginal à prisão. De acordo com o Flipoços, as declarações da escritora representam um "episódio lamentável de cunho racista". 📲 Participe do canal do g1 Sul de Minas no WhatsApp Camila participava com sua mãe, Ivana Panizzi, da mesa "Raízes e Asas: Literatura e Artes Sem Fronteiras - O Encontro de Mãe e Filha na Terra Natal", quando chamou o autor Wesley Barbosa, que tinha acabado de conhecer, para que participasse do painel e apresentasse seu livro. Wesley é de Itapecerica da Serra e participa do festival divulgando a obra Viela Ensanguentada, como integrante do Coletivo Neomarginais, que tem um estande ao lado do palco onde ocorria a apresentação. Durante a fala de Wesley, Camila perguntou se poderia ser uma neomarginal (veja vídeo acima): Camila: Como que faz para ser uma neomarginal? Wesley: Ah, basta você ser você mesma. Camila: Ai, vocês querem ser minha editora ou gráfica? Wesley: Vamos conversar. Camila: Vamos, por favor. Eu quero ser uma neomarginal, gente. Olha que tudo! Camila Luz neomarginal. Nunca fui presa, mas agora sou da sociedade, né? Flipoços retira autora da programação e recolhe seus livros após fala supostamente racista Reprodução redes sociais A literatura marginal é um movimento que surgiu na década de 1970, caracterizada por uma produção independente e que, frequentemente, aborda temas e experiências de grupos sociais marginalizados, como a população das periferias urbanas, minorias étnicas e culturais, e outros grupos que se sentem excluídos da sociedade. Após o painel na Flipoços, Wesley postou o vídeo do diálogo em uma rede social com a legenda: “Também nunca fui preso!” Ele segue fazendo postagens sobre o assunto e publicou, inclusive, o print de um pedido de desculpas de Camila. Em entrevista à EPTV, afiliada da TV Globo, ele disse que se sentiu ofendido pela escritora. "Literatura marginal é um movimento literário. Ela falou que agora ela vai ser uma neomarginal, mas ela nunca foi presa. Então, ela não tem cultura, ela não sabe o que é esse movimento marginal. Eu me senti indignado, me senti atacado. Eu senti que eu sofri racismo ali porque isso daí foi me associar a um criminoso. Eu não sou criminoso, eu sou um escritor, eu sou um autor independente. [...] é tão difícil a gente publicar livro, ter espaço nas grandes editoras, ter espaço junto à imprensa e eu faço esse trabalho de formiguinha, e sair de São Paulo, vir para Minas e ouvir esse tipo de coisa me deixou muito mal mesmo." O escritor Wesley Barbosa divulga o livro Viela Ensanguentada no Flipoços 2025 Reprodução redes sociais A organização do Flipoços considerou que Camila assumiu uma "postura inaceitável", com falas ofensivas a Wesley. “Diante disso, o festival decidiu por romper vínculos entre a autora e a programação, retirar os seus livros da Feira e cancelar todas as demais atividades em que a autora estaria vinculada nesta e em outras realizações do festival”, disse a organização por meio de nota. O Flipoços se comprometeu ainda a fazer a abertura de uma convocatória de escuta para fortalecer a curadoria do evento. “Importante destacar que, em um espaço de fala livre e democrática como o Flipoços, não é possível prever o que cada pessoa dirá ao microfone. Ainda assim, reafirmamos que não compactuamos com nenhum tipo de discurso discriminatório ou ofensivo, e seguiremos atentos para preservar o respeito e a escuta mútua em todas as atividades do evento”, disse a organização (veja a nota na íntegra abaixo). Também por meio de nota, a produção de Camila reconhece que houve uma fala infeliz, mas diz que ela foi mal interpretada. “Lamentamos profundamente se alguém se sentiu ofendido”, diz o texto (veja o texto na íntegra abaixo). “É importante ressaltar que Camila tem plena consciência de seus privilégios e já demonstrou inúmeras vezes sua disposição em abrir espaço para outras vozes - inclusive, cedendo seu próprio protagonismo em eventos, feiras e espaços profissionais, em respeito e reconhecimento à desigualdade histórica que permeia nossa sociedade. É doloroso ver a luta por justiça ser usada como palco para autopromoção”, disse a nota. LEIA MAIS SOBRE O FLIPOÇOS: Último fim de semana do Flipoços tem Turma da Mônica, influencers e autor de 'Torto Arado'; confira programação Nany People lança livro sobre sua vida depois dos 50 na Flipoços: ‘Etarismo não me pega’ Flipoços chega à 20ª edição como um dos principais festivais literários do país Como o Brasil influencia o escritor Valter Hugo Mãe: 'Despudor em relação à língua' Quem é Camila Panizzi Luz Escritora Camila Panizzi Luz foi retirada da programação da Flipoços após fala supostamente racista Reprodução redes sociais Camila Panizzi Luz mora em Portugal, país que está sendo homenageado nesta edição do Flipoços. Sua família é de Poços de Caldas. O pai é embaixador e muito por conta deste fato, Camila já conheceu 63 países. Ela está lançando dois livros este ano: "Liderança Feminina Sem Fronteiras" e "Tempestade da Mente". Em suas redes sociais, ela se apresenta como internacionalista, marketeira, exploradora e autora. Ela também é criadora do podcast "Pane no Sistema", no qual trata de assuntos como tecnologia, feminismo, saúde mental e reinvenção pessoal. Este ano ela foi citada pelo The NYC Journal como uma das 30 mulheres mais inspiradoras para ficar de olho em 2025. O perfil traçado pelo jornal diz que “a jornada de Camila abrange mais de 15 anos, de startups à liderança internacional, escrevendo comunicados para a imprensa e artigos, organizando eventos desde cedo e combinando sua expertise em marketing global e relações internacionais. Ela morou em 10 países, visitou mais de 60 e compartilha seus aprendizados em seu livro mais recente, intitulado "Tempestade da Mente", inspirando leitores a abraçar a autodescoberta, a diversidade cultural e a inovação. Apaixonada por marketing orientado a propósito, Camila capacita indústrias e indivíduos a abraçar mudanças e construir um futuro mais sustentável”. Veja a nota do Flipoços na íntegra: "Nota de Apoio ao escritor Wesley Barbosa e ao Coletivo Neomarginais O Flipoços 2025 repudia veementemente qualquer ato de racismo, discriminação ou preconceito. Nosso evento tem como pilares a diversidade, a inclusão e a valorização de todas as vozes — especialmente aquelas que historicamente foram silenciadas. Durante uma das mesas do Festival, um dos integrantes do Coletivo Neomarginais foi alvo de um episódio lamentável de cunho racista. Na mesa "Raízes e Asas: literatura e artes sem fronteiras, o encontro de mãe e filha na terra Natal", a escritora Camila Panizzi Luz decidiu convidar o escritor Wesley Barbosa, integrante do Coletivo Neomarginais, que estava na plateia para subir ao palco e participar da conversa, no entanto, ela assumiu uma postura inaceitável, com falas ofensivas ao autor do Coletivo. Diante disso, o festival decidiu por romper vínculos entre a autora e a programação, retirar os seus livros da Feira e cancelar todas as demais atividades em que a autora estaria vinculada nesta e em outras realizações do Festival. Visando preservar o respeito e a escuta mútua nas próximas edições, o Festival se compromete à abertura de uma convocatória de escuta para fortalecer a curadoria, que sempre esteve aberta a todos as formas de pensamentos enaltecendo a diversidade, representatividade e a pluralidade de vozes. A presença do Neomarginais no Flipoços, com um estande vibrante e potente, é motivo de orgulho para todos nós. Suas obras são urgentes e essenciais para a construção de uma sociedade mais justa e consciente. Reforçamos que o Flipoços, ao longo de seus 20 anos, sempre foi — e continuará sendo — um espaço de liberdade, respeito e celebração da cultura em todas as suas formas. Importante destacar que, em um espaço de fala livre e democrática como o Flipoços, não é possível prever o que cada pessoa dirá ao microfone. Ainda assim, reafirmamos que não compactuamos com nenhum tipo de discurso discriminatório ou ofensivo, e seguiremos atentos para preservar o respeito e a escuta mútua em todas as atividades do evento. Seguimos juntos, lutando por um mundo onde todas as histórias possam ser contadas e ouvidas." Veja a nota da produção de Camila na íntegra: "Nos últimos dias, surgiram acusações públicas contra Camila, alegando condutas racistas com base em recortes de mensagens privadas e fora de contexto. Reconhecemos que houve uma fala infeliz, que pode ter sido mal interpretada e por isso, lamentamos profundamente se alguém se sentiu ofendido. Entretanto, é importante ressaltar que Camila tem plena consciência de seus privilégios e já demonstrou inúmeras vezes sua disposição em abrir espaço para outras vozes - inclusive, cedendo seu próprio protagonismo em eventos, feiras e espaços profissionais, em respeito e reconhecimento à desigualdade histórica que permeia nossa sociedade. É doloroso ver a luta por justiça ser usada como palco para autopromoção. Esperamos que o debate avance com responsabilidade e verdade, e que possamos, todos, aprender e crescer - sem distorções, sem recortes convenientes. Camila seguirá refletindo, aprendendo e se posicionando sempre ao lado da inclusão e do respeito." Veja mais notícias da região no g1 Sul de Minas

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